quinta-feira, janeiro 12, 2006

O POLVO

Os textos que se seguem, foram publicados por Joaquim Vieira na coluna semanal da Grande Reportagem - Os Passos em Volta - durante o passado mês de Setembro. Duas notas prévias: A primeira, para introduzir um ponto que Joaquim Vieira não refere - presumo, devido ao gap temporal - que António Maximiano Rodrigues integra a Comissão de Honra da actual recandidatura de Mário Soares.

A segunda, para lamentar que a Grande Reportagem - de que Joaquim Vieira já não faz parte - cessará a sua publicação no final do ano.



O Polvo (1) - GR 243, de 20050903 Além da brigada do reumático que é agora a sua comissão, outra faceta distingue esta candidatura de Mário Soares a Belém das anteriores: após a edição de Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido, do seu ex-companheiro de partido Rui Mateus, o livro, que noutra democracia europeia daria escândalo e inquérito judicial, veio a público nos últimos meses do segundo mandato presidencial de Soares e foi ignorado pelos poderes da República. Em síntese, que diz Mateus? Que, após ganhar as primeiras presidenciais, em 1986, Soares fundou com alguns amigos políticos um grupo empresarial destinado a usar os fundos financeiros remanescentes da campanha. Que a esse grupo competia canalizar apoios monetários antes dirigidos ao PS, tanto mais que Soares detestava quem lhe sucedeu no partido, Vítor Constâncio (um anti-soarista), e procurava uma dócil alternativa a essa liderança. Que um dos objectivos da recolha de dinheiros era financiar a reeleição de Soares. Que, não podendo presidir ao grupo por razões óbvias, Soares colocou os amigos como testas-de-ferro, embora reunisse amiúde com eles para orientar a estratégia das empresas, tanto em Belém como nas suas residências particulares.COM SOARES, JÁ NÃO HÁ MORAL PARA CRITICAR FERREIRA TORRES, VALENTIM OU FELGUEIRAS. Que, no exercício do seu «magistério de influência» (palavras suas, noutro contexto), convocou alguns magnatas internacionais – Rupert Murdoch, Silvio Berlusconi, Robert Maxwell e Stanley Ho – para o visitarem na Presidência da República e se associarem ao grupo, a troco de avultadas quantias que pagariam para facilitação dos seus investimentos em Portugal.Note-se que o «Presidente de todos os portugueses» não convidou os empresários a investir na economia nacional, mas apenas no seu grupo, apesar de os contribuintes suportarem despesas de estada.Que moral tem um país para criticar Avelino Ferreira Torres, Isaltino Morais, Valentim Loureiro ou Fátima Felgueiras, se acha normal uma candidatura presidencial manchada por estas revelações?E que foi feito dos negócios do Presidente Soares?

O Polvo (2) - GR 244, de 20050910 A rede de negócios que Soares dirigiu enquanto Presidente, foi sedeada na empresa Emaudio, agrupando um núcleo de próximos seus, dos quais António Almeida Santos, eterna ponte entre política e vida económica, Carlos Melancia, seu ex-ministro, e o próprio filho, João.A figura central era Rui Mateus, que detinha 60 mil acções da Fundação de Relações Internacionais (subtraída por Soares à influência do PS após abandonar a sua liderança), as quais eram do Presidente mas que fizera do outro depositário na sua permanência em Belém – relata Mateus em Contos Proibidos.Soares controlaria assim a Emaudio pelo seu principal testa-de-ferro no grupo empresarial. Diz Mateus que o Presidente queria investir nos media: daí o convite inicial para Silvio Berlusconi (o grande senhor da TV italiana, mas ainda longe de conquistar o Governo) visitar Belém. Acordou-se a sua entrada com 40% numa empresa em que o grupo de Soares reteria o resto, mas tudo se gorou por divergências no investimento.A ÉTICA POLÍTICA É UM VALOR PERMANENTE, E AS SUAS VIOLAÇÕES NÃO PRESCREVEMSoares tentou então a sorte com Rupert Murdoch, que chegou a Lisboa munido de um memorando interno sobre a sua associação a «amigos íntimos e apoiantes do Presidente Soares», com vista a «garantir o controlo de interesses nos media favoráveis ao Presidente Soares e, assumimos, apoiar a sua reeleição».Interpôs-se porém, outro magnata, Robert Maxwell, arqui-rival de Murdoch, que invocou em Belém credenciais socialistas. Soares daria ordem para se fazer o negócio com este. O empresário inglês passou a enviar à Emaudio 30 mil euros mensais.Apesar de os projectos tardarem, a equipa de Soares garantira o seu «mensalão». Só há quatro anos foi criminalizado o tráfico de influências em Portugal, com a adesão à Convenção Penal Europeia contra a Corrupção. Mas a ética política é um valor permanente e as suas violações não prescrevem. Daí a actualidade destes factos, com a recandidatura de Soares. O então Presidente ficaria aliás nervoso com a entrada em cena das autoridades judiciais.

O Polvo (3) - GR 245, de 20050917 A empresa Emaudio, dirigida na sombra pelo Presidente Soares, arrancou pouco após a sua eleição e, segundo Rui Mateus em Contos Proibidos, contava «com muitas dezenas de milhar de contos “oferecidos” por Robert Maxwell (...), consideráveis verbas oriundas do “ex-MASP” e uma importante contribuição de uma empresa próxima de Almeida Santos».Ao nomear governador de Macau um homem da Emaudio, Carlos Melancia, Soares permite juntar no território Administração Pública e negócios privados.Acena-se a Maxwell a entrega da estação pública de TV local, com a promessa de fabulosas receitas publicitárias. Mas, face a dificuldades técnicas, o inglês, tido por Mateus como «um dos grandes vigaristas internacionais», recua.O esquema vem a público, e Soares acusa os gestores da Emaudio de lhe causarem perda de popularidade, anuncia-lhes alterações ao projecto e exige a Mateus as acções de que é depositário e permitem controlar a empresa.O testa-de-ferro, fiel soarista, será cilindrado – tal como há semanas sucedeu, noutro contexto, a Manuel Alegre.O DINHEIRO DO FAX DE MACAU DESTINAVA-SE «A QUEM O PRESIDENTE DECIDISSE»Mas antes resiste, recusando devolver as acções e emperrando a reformulação do negócio. E, quando uma empresa alemã reclama por não ter contrapartida dos 250 mil euros pagos para obter um contrato na construção do novo aeroporto de Macau, Mateus propõe o envio de um fax a Melancia exigindo a devolução da verba. O Governador cala-se. Almeida Santos leva a mensagem a Soares, que também se cala.Então, Mateus dá o documento a O Independente, daqui nascendo o «escândalo do fax de Macau».Em plena visita de Estado a Marrocos, ao saber que o Ministério Público está a revistar a sede da Emaudio, o Presidente envia de urgência a Lisboa Almeida Santos (membro da sua comitiva) para minimizar os estragos. Mas o processo é inevitável.Se Melancia acaba absolvido, Mateus e colegas são condenados como corruptores.Uma das revelações mais curiosas do seu livro é que o suborno (sob o eufemismo de «dádiva política») não se destinou de facto a Melancia, mas «à Emaudio ou a quem o Presidente da República decidisse». Quem, afinal, deveria ser réu?

O Polvo (4) - GR 246, de 20050924 Ao investigar o caso de corrupção na base do «fax de Macau», o Ministério Público entreviu a dimensão da rede de negócios então dirigida pelo Presidente Soares, desde Belém.A investigação foi encabeçada por António Rodrigues Maximiano, procurador-geral adjunto da República, que a dada altura se confrontou com a eventualidade de inquirir o próprio Soares. Questão demasiado sensível, que Maximiano colocou ao então procurador-geral da República, Narciso da Cunha Rodrigues. Dar esse passo era abrir a caixa de Pandora, implicando uma investigação ao financiamento dos partidos políticos, não só do Ps mas também do PSD – há quase uma década repartindo os governos entre si.A previsão era catastrófica: operação «mãos limpas» à italiana, colapso do regime, república dos juízes.Cunha Rodrigues, envolvido em conciliábulos com Soares em Belém, optou pela versão mínima: deixar de fora o Presidente e limitar o caso a apurar se o Governador de Macau, Carlos Melancia, recebera um suborno de 250 mil euros.INVEROSÍMIL? NADA FOI DESMENTIDO PELOS ENVOLVIDOS, NEM NUNCA SERÁ.Entretanto, Já Robert Maxwell abandonara a parceria com o grupo empresarial de Soares, explicando a decisão em carta ao próprio Presidente.Mas logo a seguir surge Stanley Ho a querer associar-se ao grupo soarista, intenção que, segundo relata Rui Mateus em Contos Proibidos, o magnata dos casinos de Macau lhe comunica «após consulta ao Presidente da República, que ele sintomaticamente apelida de boss».Só que Mateus cai em desgraça, e Ho negociará o seu apoio com o próprio Soares, durante uma «presidência aberta» que este efectua na Guarda.Acrescenta Mateus no livro que o grupo de Soares queria ligar-se a Ho e à Interfina (uma empresa portuguesa arregimentada por Almeida Santos) no gigantesco projecto de assoreamento e desenvolvimento urbanístico da baía da Praia Grande, em Macau, lançado ainda por Melancia, e onde estavam «previstos lucros de alguns milhões de contos».Com estas operações, esclarece ainda Mateus, o Presidente fortalecia uma nova instituição: A Fundação Mário Soares.

O Polvo (conclusão) - GR 247, de 20051001As revelações de Rui Mateus sobre os negócios do Presidente Soares, em Contos Proibidos, tiveram impacto político nulo e nenhuns efeitos.Em vez de investigar práticas porventura ilícitas de um chefe de Estado, os jornalistas preferiram crucificar o autor pela «traição» a Soares (uma tese académica elaborada depois por Edite Estrela, ex-assessora de imprensa em Belém, revelou as estratégias de sedução do Presidente sobre uma comunicação social que sempre o tratou com indulgência).Da parte dos soaristas, imperou a lei do silêncio: comentar o tema era dar o flanco a uma fragilidade imprevisível.Quando o livro saíu, a RTP procurou um dos visados para um frente-a-frente com Mateus - todos recusaram.A omertà mantém-se: o desejo dos apoiantes de Soares é varrer para debaixo do tapete esta história (i)moral da III República, e o próprio, se interrogado sobre o assunto, dirá que não fala sobre minudências, mas sobre os grandes problemas da nação.

O ANÚNCIO DA RECANDIDATURA DE SOARES VEIO ACORDAR VELHOS FANTASMAS

Com a questão esquecida, Soares terminaria em glória uma histórica carreira política, mas o anúncio da sua recandidatura veio acordar velhos fantasmas.O mandatário, Vasco Vieira de Almeida, foi o autor do acordo entre a Emaudio e Robert Maxwel. Na cerimónia do Altis, viam-se figuras centrais dos negócios soaristas, como Almeida Santos ou Ilídio Pinho, que o Presidente fizera aliar a Maxwell.Dos notáveis próximos da candidatura do «pai da Pátria», há também homens da administração de Macau sob tutela de Soares, como António Vitorino e Jorge Coelho, actuais eminências pardas do PS; Ou Carlos Monjardino, conselheiro para a gestão dos fundos soaristas e presidente de uma fundação formada com dinheiros de Stanley Ho.Outros ex-«macaenses» influentes são o Ministro da Justiça Alberto Costa que, como director do Gabinete de Justiça do território, interveio para minorar os estragos de um caso judicial que destapou as ligações entre o soarismo e a Emaudio, ou o presidente da CGD por nomeação de Sócrates, Santos Ferreira, que o governador Melancia pôs à frente das obras do aeroporto de Macau.

Será o polvo apenas uma bela teoria da conspiração?

Comments:
Este texto serve para dár uma ideia dum passado muito recente.

Um passado em que é bom lembrar.

O Partido Social Democrata é um partido duro de roer.

Futuramente este Blog terá outras coisas.

Queiram aguardar.

Obrigado
 
Pedimos desculpa pelos 2 últimos comentários terem desaparecido, mas tivemos que apagar o texto anterior.

psd de vila nova de paiva
 
Que maravilha de post.

Fiquei a saber coisas do arco da velha.

Parece aquele filme O Polvo Italiano que deu uma vez na televisão.

Já mandei vir o livro "Contos Proibidos - Memórias de Um PS Desconhecido em:" www.livra.pt, custa 17,46 €.
 
http://pt.livra.com/, afinal é este o site para comprar o Livro ""Contos Proibidos - Memórias de Um PS Desconhecido" de Rui Mateus.
 
boas,

Eu tenho uma dúvida rtelativamente ao blogue que é a seguinte:

O blogue é mantido por entusiastas do Partido Social Democrata?

ou

O blogue é um meio OFICIAL do partido, devidamente reconhecido nas estruturas do Partido Social Democrata?

Cmps,
 
Este blog é realmente interessante!! nunca tinha visto um blog começar tão mal como este. Limitam-se à transcrição de uns textos, que nada acrescentam à campanha ou ao debate, enfim.... é este o psd que temos no nosso concelho??? já agora que entraram no mundo dos blogs é de esperar respostas aos eleitores. já agora gostava que comentassem a constituição das mesas eleitorais para as eleições presidenciais. Isto se tiverem coragem, õu capacidade, o q não acredito a ver pela amostra deste blog!!
 
Os Srs do PS já estão preocupados e depois têm medo de assinar os post.

Estão preocupados com o vosso candidato Mário Soares. Quem escreveu o livro foi um ex-socialista Rui Mateus.

Estamos em campanha eleitoral e este Post veio em excelente altura...aliás também vou comprar o livro, porque gosto destas histórias "macabras".

Parabéns a quem encontrou este post, costumo ver o Jornal Expresso mas confesso que não me apercebi deste artigo. Veio mesmo na hora oportuna.

Miguel Magalhães
mdois@msn.com
 
Para o Sr. Aquilino!!!

Eu não sei o que os preocupa na constituição das mesas?

Mas ao que parece deveriam ser sempre os mesmos?

Eu pela primeira vez vou estar numa mesa de voto. E posso dizer que aceitei porque quero experimentar. Ou pensam que vou fazer 400 km por gosto ou para ganhar uns míseros 70 euros e passar um Domingo longe da familia???

Posso também dizer que tenho esta derrota de Cavaco Silva atravessada à 10 anos e quero contribuir para a sua vitória. Tão simples quanto isso.

Agora reparem numa coisa?

Quantos funcionários nestes 2 meses viu renovado o seu contrato ou passou de estagiário a contratado? Ou foram reclassificados nas suas carreiras?

Que eu saiba foram 5 pessoas?

Quatro(4) destas cinco(5) pessoas estavam em listas do PS, ou apoiavam o PS e uma (1) não sei.

Agora pergunto? Do que se queixam?

Afinal vale a pena ser da oposição e ser do contra? Vossas Excelências é que tiveram sorte.

Agora se fosse ao contrário é que eu queria ver o que diziam?

E já agora!!! No Projecto Progride em que a entidade executora é as Caristas da Queiriga. Quem entrou?

Uma apoiou o PSD. Outra é namorada dum dirigente da JS e membro da assembleia pelo PS, outra é de Viseu e a coordenadora, é de Pendilhe, e ía na Lista do PS à Câmara Municipal.

Agora digam-me, e aqui sim, se tiverem coragem o que têm a dizer.

VALEU A PENA SER DA OPOSIÇÃO!!!

Agora estão preocupados com as mesas?

Não atirem areia para os olhos!!!!


Miguel Magalhães
mdois@msn.com
 
Ao Sr. Miguel Magalhães:

Não vamos entrar na discussão de assinar ou deixar de assinar posts, o meu nome é Aquilino e é assim que assino, não interessa se é pseudónimo ou não. Engraçado é que apesar de não escrever muito nestes blogs, mas ser um leitor atento dos mesmos, posso verificar que o Sr. só começou a assinar os seus depois do PSD ganhar as eleições, não me diga que só começou a escrever nessa altura??? ou era um anónimo???? porque é que antes não assinava, tinha medo de represálias, por não ser da cor do executivo??? e por ocupar o seu tempo que devia estar a trabalhar a correr os blogs a "escrever mal" dos seus patrões??? Agora já pode escrever à vontade, são da mesma cor, e um bocado de graxa cai sempre bem!!
Tenha vergonha daquilo que diz e que escreve, ninguém atira areia para os olhos de ninguém... Claro que estou preocupado com as mesas, preocupa-me que as mesas possam não ser isentas e que estejam a ser usadas para pagar favores, que eu saiba nos ultimos anos ninguém se queixou do mesmo!!!
E em relação às contratações espero que as mesmas tenham sido feitas pela competência das pessoas, aliás é obrigação da entidade patronal realizar as contratações ou renovações de contrato, baseados na competência das pessoas, independentemente do partido a que pertencem. Ou as mesmas estão a ser feitas para silenciar as pessoas e poderem pôr e dispôr.... A mim ninguém me cala e quando tiver de criticar critico, quando tiver de aplaudir irei aplaudir, neste momento só tenho razões para criticar.

Continue sr. miguel é bom vê-lo fora da toca.
 
"tinha medo de represálias, por não ser da cor do executivo???"

Se tivesse medo de represálias comprava um cão. Por outro lado não levariamos o nosso Presidente de partido Marques Mendes à porta da vossa sede "queque", nem teria andado em campanha profunda.

O que eu mais gostei foi que o lugar que vossa exa queria foi ocupado. Deu-me gozo.

Cumprimentos Sr. Aquilino e outras coisas. O sr é que tem que comprar um cão.

Miguel Magalhães
mdois@msn.com
 
Já agora que lugar é que eu queria????

Deve estar profundamente enganado
 
Como dizia Álvaro Cunhal..."Olhe que não"...Eu sei que voçe sabe, aquilo que eu sei...mas até tinhamos tido muito gosto em o ter como colega...acredite...


Miguel Magalhães
mdois@msn.com
 
esta cena do Soares está fixe. tambem não conhecia. Como é possível não estarem presos. somos um país de batatas e de gatunos, só se safam os ladrões e os vigaristas.
 
Mais umas horas e Soares passa para a prateleira.
 
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