quarta-feira, dezembro 06, 2006
JUSTIÇA PRECISA-SE (...)

José Esteves confessa ter fabricado engenho explosivo.
O ex-segurança José Esteves confessou, em declarações à revista "Focus", ter preparado um engenho que terá feito explodir o avião que matou Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa a 04 de Dezembro de 1980.
José Esteves confessa ter fabricado engenho explosivo
O ex-segurança José Esteves confessou, em declarações à revista "Focus", ter preparado um engenho que terá feito explodir o avião que matou Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa a 04 de Dezembro de 1980.
A edição de quarta-feira da revista "Focus", que entrevistou José Esteves refere que o antigo segurança do CDS, assume agora que foi o autor da bomba incendiária que provocou o acidente, mas que o seu plano era apenas pregar um "susto" ao general Soares Carneiro, candidato presidencial pela Aliança Democrática (AD), e que o engenho foi alterado por forma a provocar a morte dos passageiros do Cessna.
A explosão da aeronave Cessna, no bairro de Camarate, a 04 de Dezembro de 1980, provocou a morte do então primeiro- ministro Francisco Sá Carneiro, da sua mulher Snu Abecassis, do ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, do chefe de gabinete do primeiro-ministro António Patrício Gouveia, assim como dos dois pilotos do aparelho.
Para uns foi um acidente, para outros um atentado e depois de muitos anos em investigações, o caso nunca chegou à barra dos tribunais.
Questionado pela revista "Focus" sobre o alvo do atentado, José Esteves explica que "era um engodo destinado a Soares Carneiro" (candidato presidencial da Aliança Democrática) e que "o circo mediático estava todo montado".
A bomba era apenas, conta José Esteves, para "fazer incendiar o avião no fim da pista, sem levantar, e pregar um susto".
Adelino Amaro da Costa tinha o avião disponível para viajar para o Porto onde ia assistir ao encerramento da campanha de Soares Carneiro, mas este foi para Setúbal nessa noite, acompanhado de Freitas do Amaral.
O primeiro-ministro Sá Carneiro, que também ia para o Porto, acabou por desmarcar os dois bilhetes que tinha reservado na TAP e, juntamente com o ministro da Defesa, embarcou no Cessna.
O antigo segurança, José Esteves, explicou que foi ele quem "fabricou a faca, mas não deu a facada".
"Eu fabrico a faca, mas não dou a facada. As armas não matam. Quem matam são os homens. Em Camarate, tudo o que eu fiz foi dizer "sim, senhor patrão", pode ler-se na entrevista.
"Montei um engenho incendiário para pregar um susto.
Foi entregue na Rua Augusta, numa loja, debaixo de um `puff`.
Já sabia que era para um indivíduo de tez escura...", disse.
O "Sô Zé" como também é conhecido, explicou que o engenho era uma mistura: "Se juntarmos clorato de potássio com açúcar e ácido sulfúrico, temos uma bomba incendiária.
Basta depois ter um tubo - e um cabo de reboque ser levantado - para o engenho ser accionado".
José Esteves assumiu a autoria do engenho para "pregar um susto", mas recusou ser considerado o assassino dos dois políticos portugueses e confessa que, ainda hoje, o "Caso Camarate" lhe provoca sofrimento.
"Não é medo. É sofrer. É a filha não me convidar para o casamento por o pai ser o assassino de Camarate. É o meu pai morrer e dizer: `Eu vou morrer filho, e tu és o assassino de sete pessoas`", confessou.
"O avião era para incendiar no fim da pista. Depois, todos os que foram avisados, ao engano, aparecem na porta com o cinto de amianto desapertado. E o amianto não queima. E os corpos estão todos à saída do avião, verdade? Ora, em trinta e tal segundos não dá tempo para desapertar os cintos quando se apercebem que alguma coisa vai correr mal depois do avião bater nos cabos de alta tensão e antes de se despenhar no bairro de Camarate", pormenorizou, acrescentando que "no fim da pista, o avião ia efectivamente a arder".
O Cessna, já a arder e deixando um rasto de detritos, acaba por embater em cabos de alta tensão, junto ao bairro das Fontainhas e, perdendo momento e velocidade, acaba por se despenhar numa bola de fogo, sobre Camarate, perto de Lisboa.
Em termos judiciais, o caso prescreveu em Setembro deste ano e, apesar da confissão, o antigo "operacional" nunca poderá ser julgado.
"Como alguém conhecido uma vez me disse, não tem solução: Peca por excesso de provas", concluiu José Esteves.